A decisão da CBF de adotar a camisa 2 vermelha é uma jogada tão ousada quanto arriscada, atingindo vários níveis de sensibilidade. No visual, ela rompe completamente com a identidade da seleção: vermelho nunca foi uma cor associada à alma brasileira no futebol. Já no campo político, o movimento parece um tiro no pé. Se o objetivo era tentar descolar a seleção da polarização que transformou a amarelinha em símbolo ideológico, tingi-la de vermelho é como tentar desarmar uma bomba chutando-a. O cenário se complica ainda mais porque, historicamente, fornecedoras de material esportivo quase nunca realizam grupos focais para testar novas ideias. Talvez, se tivessem colocado algumas pessoas em uma sala para ver suas reações, teriam percebido antes o tamanho da confusão que estavam prestes a criar com essa escolha de cor.
O uniforme vermelho veio a público da maneira mais tradicional do futebol moderno: o famoso vazamento estratégico. Em vez de investir em pesquisas sérias ou consultar o mercado, preferiram deixar a imagem “escapar” para um site especializado, testando a aceitação do público como quem lança um balão de ensaio político. Se a reação for ruim, podem sempre alegar que era só especulação. Mas desta vez o plano saiu pela culatra: a informação foi checada e confirmada por jornalistas sérios, deixando claro que o plano é vestir a seleção de vermelho na Copa do Mundo de 2026. Segundo o jornalista Cahê Mota, a camisa será lançada oficialmente em março do próximo ano — e o detalhe que mais chamou a atenção foi que o símbolo estampado no peito será da Jordan, e não da tradicional Nike, embora ambas sejam do mesmo conglomerado americano.
O vermelho, em si, já gera um estranhamento brutal. Afinal, o Brasil tem à sua disposição o verde, o amarelo, o azul e até o preto e branco para criar variações estilísticas sem sair de sua essência — como já fez outras vezes. Optar pelo vermelho, ainda mais em um momento em que a camisa da seleção se tornou um símbolo da direita conservadora, é um gesto carregado de significados. E se alguém acredita que isso é irrelevante porque o uniforme amarelo ainda existirá, vale lembrar: patrocinadores como Itaú, Vivo, Ambev e Cimed — gigantes que investem pesado na imagem da seleção — talvez não enxerguem a politização da camisa como algo tão inofensivo para seus negócios, especialmente em pleno ano eleitoral.
E em meio a todo esse vendaval causado pela escolha da cor, passa quase despercebido outro detalhe estratégico: a mudança da Nike para a marca Jordan no uniforme da seleção. No universo do futebol, a Jordan é uma raridade, usada até agora apenas pelo Paris Saint-Germain — clube que, turbinado pelo investimento do Catar, tenta se projetar como marca de desejo internacional, misturando futebol e moda. É nesse tipo de posicionamento “fashion” que a CBF parece querer se inspirar. No entanto, em meio à tempestade provocada pelo vermelho, essa movimentação estratégica quase some diante da controvérsia. Afinal, quando se mexe com símbolos nacionais tão sensíveis, todo o resto vira pano de fundo para o barulho da polêmica.